Eis que finalmente conseguimos dar ignição na rede comunitária de Rio Largo, município pequeno ao lado de Maceió-Alagoas.
Vale antes fazer um resumo de todo o processo de construção e co-criação desta rede que foi feita junto com os atores locais que se mobilizaram em torno desta iniciativa bacana de criar a primeira rede comunitária de Alagoas (pelo menos que a gente sabe :-)).
Após a seleção e verificação dos dados coletados pelo formulário da Coolab, se iniciou a construção conjunta de um pré projeto técnico, atribuindo aos atores locais algumas atividades antes da imersão. Estas atividades reuniam desde localizar fornecedores locais de produtos inerentes a instalação da infraestrutura, como ferragens, ferramentas e insumos, como a identificação de um fornecedor de link de internet para se interconectar com a rede comunitária proposta. Para além destas informações mais práticas, tb foi atribuída outras atividades, como identificar os locais onde os equipamentos seriam instalados e a escolha de pessoas que iriam aderir à rede comunitária para instalação e manutenção da infraestrutura durante e após a imersão.
No processo de mobilização da comunidade, eles conseguiram fazer um acordo com um provedor local, com fornecimento de link via fibra full duplex, a um custo por mega de R$ 8,00 mensais, conseguiram suporte da ONG IADH, que atua na região junto as políticas do Minha Casa, Minha Vida, que ajudou com a parte de alimentação, transporte local e estadia da equipe da Coolab e dos moradores que participaram das oficinas.
Sanado todos os itens do checklist da imersão, inclusive na definição do pré-projeto técnico, que inclua a compra dos equipamentos e da topologia escolhida pela comunidade para a criação da infraestrutura, demos o passo de fechar a planilha orçamentária, apresentar pros atores que estavam no processo de organização da imersão e confirmar a nossa ida para Rio Largo, que ficou estabelecida do dia 02/10 a 09/10 de 2018.
A programação dos 8 dias que iríamos passar lá ficou pré programada da seguinte forma:
02/10
Manhã: Reunião com gestores da rede local para explicação detalhada e espaço de trocas sobre a rede comunitária (lideranças e técnicos comunitários)
Tarde: Reunião com os moradores que foram engajados pelos gestores locais para explicação da iniciativa da rede comunitária
03/10
Manhã: Autogestão da rede comunitária: processos legais, econômicos, técnicos, sociais e políticos
Tarde: Apresentação de conceitos de rede e realização de dinâmica para compreensão dos conceitos apresentados. Oficinas de conhecimentos técnicos: RouterBoard
04/10
Manhã: Oficinas de conhecimentos técnicos: Antenas setoriais Ubiquiti; CPEs Ubiquiti
Tarde: Oficinas de conhecimentos técnicos: Redes com LibreMesh em Rádios TPLink
05/10
Manhã: Oficinas de conhecimentos técnicos: RaspBerry Pi com WordPress e Configuração de Servidor de Streaming com VLC
Tarde: Preparação de infraestrutura para montagem da rede
06/10
Início da instalação da rede comunitária
07/10 – Eleições
08/10
Continuidade da instalação da rede comunitária
09/10
Finalização da instalação da rede comunitária e momento de trocas com os gestores da rede comunitária. Encaminhamentos, avaliação do processo da imersão e identificação de pendências a serem sanadas e lições aprendidas.
Alguns contratempos surgiram durante o processo de imersão que ocasionaram mudanças no cronograma; foram eles:
1 – A escola, onde foi feito todo o processo de capacitação e reuniões estaria indisponível de sexta até domingo por conta das eleições;
2 – A reunião com a comunidade foi transferida para a segunda feira (08/10) por decisão das lideranças e por um consenso de instalar primeiro a rede;
3 – Com a mudança do ponto de distribuição, foi necessária a compra de 3 tubos de 1 ½ para instalação das 03 antenas setoriais e 02 CPEs que estavam mais distantes das setoriais (foram feitos outros pagamentos de materiais e serviços complementares para instalação dos tubos);
4 – Algumas compras de materiais foram equivocadas, como a compra de tomadas elétricas e a compra do cabo de rede blindado, que na verdade veio sem blindagem, por engano do fornecedor. Ambas as compras foram convertidas e reajustadas para cabos de rede simples (sem blindagem).
5 – A reunião com a comunidade acabou sendo feita de forma pulverizada, já que o fim de semana teve desmobilização por conta das eleições, logo, foram aproveitados os momentos de instalação para junto com as lideranças conversarmos pontualmente com os moradores no torno de cada ponto da rede.
Durante todo o processo de imersão, houve muito interesse dos alunos da Escola Estadual Francisco Leão, que reuniram jovens de várias comunidades do entorno da localidade. As oficinas contaram com a participação de 15 jovens no processo de capacitação, incluindo entre eles moradores já formados e que se prontificaram em assumir o papel de técnicos comunitários.
Findo o processo de capacitação, iniciou-se a instalação física dos equipamentos, onde eu e o Thiago fizemos somente acompanhamento dos processos de instalação. Uma falha identificada no processo, foi a falta de consolidação do mapa da rede, verificação e separação dos kits de equipamentos e materiais para cada ponto de rede escolhido. Esta falha gerou alguns contratempos e atrasos, visto que a logística contava com poucos recursos de ferramentas e transporte, gerando alguns atrasos e a espera das outras equipes de instalação na liberação de ferramentas e transporte.
A topologia da rede instalada foi a híbrida, mixando redes wifi ponto-multiponto como bridges, redes mesh e também o uso de cabeamento a partir dos roteadores e switches instalados nos usuários. Foram 4 pontos definidos na comunidade abrangendo 3 conjuntos habitacionais distintos. No ponto principal (Flávio) foram usados o seguintes equipos : 01 routerboard com routeros para fazer a gestão da rede através de portal captivo; 03 antenas setoriais 5.8 Ghz padrão AC; 01 switch de 8 portas; 02 roteador tplink archer c5. No segundo ponto (Fátima) foram usados 01 switch 8 portas; 01 CPE LiteBeam 23 dbi; 02 roteador tplink archer c5. No terceiro ponto (Marcio) foram usados 01 switch de 8 portas, 01 roteador tplink archer c5 e 01 CPE LiteBeam 23 dbi. No quarto ponto (Weverton) foram usados 01 roteador tplink archer c5 e 01 CPE LiteBeam 23 dbi.
Todo o processo de instalação e configuração foi feito pelas equipes de moradores, sendo monitorado por nós, da Coolab, quando preciso.
Após a instalação física e lógica da rede e a mesma estando operacional, nos reunimos com os atores que iriam se envolver nos processos de gestão da rede, tanto técnica como administrativamente e conversamos sobre as formas de organização que este grupo poderia adotar como boa prática. Neste momento 2 dos jovens que participaram das instalações e que eram moradores da comunidade, se ofereceram para serem os técnicos comunitários, assumindo a responsabilidade de apropriação mais intensa do conhecimento adquirido e segurar as pontas até o ponto de equilíbrio de sustentabilidade da rede comunitária de Rio Largo. Elivelton e Weverton assumiram este papel, mas, também aderiram para dar suporte complementar, mais 6 jovens que atuaram nas instalações e no processo de imersão.
Da parte mais administrativa assumiram as funções 3 lideranças comunitárias, sendo a D. Fátima, o Flávio e o Marcio os três que dariam ignição no processo de montagem de um conselho gestor local da rede comunitária e buscar a disseminação do processo associativista para expansão da rede. No debate foi solicitado 6 meses de prazo para organizar este processo e a associação começar a contribuir no retorno do empréstimo feito pela Coolab, bem como, o tempo necessário para expansão da rede e a melhor apropriação do conhecimento técnico realizado na imersão.
Por fim, já no ultimo dia, fizemos um pouco mais às pressas a oficina do servidor de wordpress usando o RaspBerry Pi. Foi deixado instalado o serviço, mas, ficou a pendência de avançar um pouco mais no uso administrativo da ferramenta. Na discussão sobre empreendedorismo atividades econômicas que pudesse ampliar a sustentabilidade da rede, 2 ideias foram postas, sendo uma delas o uso do portal comunitário como meio de comunicação e divulgação institucional de comércios locais no apoio a sustentabilidade da rede e também a criação de uma rádio/TV web via streaming, usando a plataforma do VLC.
Nas semanas que se seguiram após a imersão, conseguimos colocar o VLC no ar, criando o segundo serviço na rede local e até a ultima informação que tivemos é que já estão se mobilizando na captação de parceiros e apoio para criação do primeiro meio de comunicação online na comunidade.
Vamos ver como serão as cenas dos próximos capítulos, mas, uma coisa é certa : ESTAMOS TODOS JUNTOS NESSA!!!!