Conectando Povos da Terra

Nos últimos anos tem crescido em mim uma necessidade de me conectar com minha ancestralidade e as culturas da Terra, para ajudar de qualquer maneira que eu possa com as suas resistencias e aprender a arte do #buenvivir.

O projeto do último ano, Kayapo Mesh, se perdeu na burocracia até esse dia. Esse ano decidi fazer como eu fazia no passado e ir até as comunidades pelos meus próprios meios, com o objetivo de compartilhar o conhecimento que eu coletei nos ultimos anos em #redescomunitarias e #tecnologiasdistribuidas, mas #covid19 me parou.

Mas esse ano foi incrível no sentido que eu tive a oportunidade de me conectar a algumas pessoas chaves que estão lutando pelas culturas originárias e pude aprender sobre algumas realidades distintas, mesmo que remotamente. Estivemos planejando juntos como ajudar comunidades e escrevemos algumas informações/comunicações relacionados a projetos buscando fundos.

Meu atual entendimento da realidade

Mapa com comunidades originárias conhecidas e territórios “oficiais” dentro território “brasileiro”

Os pontos amarelos do mapa acima são algumas das aldeias conhecidas no território brasileiro e as áreas amarelas são os territórios originários “oficiais”, sancionados pelo governo. A relação entre a presença de culturas indígenas e conservação de floresta é óbvia.

Quanto mais profunda na floresta é a aldeia, menos provável que tenham comunicação e mais provável de serem alvos de violência por madeireiros, mineradores e narco traficantes. Comunicação básica é uma questão de sobrevivência para muitos. Além do fator de sobrevivência, eles devem ter a possibilidade de se comunicar com o mundo externo, por eles mesmos sem depender do estado ou ONGs (ou até mesmo eu para esse fim) para falar por eles. Eu pessoalmente também acredito que dando voz a eles, pode inspirar muitos lá fora que parecem não conseguir entender que existem alternativas para o sistema auto destrutivos.

Acesso a informação é também crucial, como a maioria das aldeias não são mais 100% autônomas, então eles precisam interagir com o mercado para algumas necessidades básicas. Também fazem uso de uma vasta variedade de ferramentas modernas, que obviamente quebram. Muitas vezes eles são capazes de hackear as ferramentas e fazer uso delas de algum jeito, mas muitas vezes a ferramenta se torna obsoleta, então acesso a conhecimento técnico é fundamental.

Tecnologias de comunicação e informação seguras, de baixo custo e baixo consumo energético

Houveram projetos incríveis que conectaram áreas florestais remotas, como o projeto Hermes da Rhizomatica que usa rádio UF. Mas o custo dos equipamentos de rádio HF ainda é muito alto, consomem muita energia (muitas aldeias não tem eletricidade) e necessitam de uma licença de rádio amador, que torna essa solução não escalável nos lugares onde é urgentemente necessário.

Estive envolvido com #elêtronicos ultimamente e obcecado com a ideia de construir equipamentos de comunicação/informação não corporativos. Então tenho andado investigando um montão sobre #lora e como isso é perfeito para casos assim remotos, pelo menos como uma primeira opção, antes que a comunicação de banda larga os atinja.

Um computador de uma placa só, carregado com aplicativos como Manyverse, Āhau, Mapeo e Kolibri serviria para dar ao menos acesso à informações pré-carregadas e possibilitar sincronização tolerante a atrasos de arquivos grandes de mídia.

Juntas essas tecnologias oferecem uma solução inicial barata, de baixo gasto energético e pequena barreira técnica que talvez escale para chegar aos que realmente precisam.

Meu sonho

Imagem de um mapa com um trecho do Rio Negro e seus afluentes

Eu venho usando essa ferramenta para localizar morros próximos a importantes rios amazônicos, que também é provável de ter comunidades com a necessidade de tecnologias de comunicação/informação. Ainda precisa fazer muita experimentação mas eu acho que um tipo de rede LoRa seria viável.

Eu não posso parar de sonhar em ir em uma expedição estilo Schultes (uahuaua) de forma a conectar os povos da Terra, não somente com o mundo, mas especialmente conectar entre eles e outras culturas originárias em volta do mundo. Ai é quando eu vejo potencial para uma grande mudança.

Vou continuar experimentando, gostaria de jogar isso aqui, já que o SSB parece ter uma mágica que faz sonhos se tornarem realidade 😉


Errata: quando eu menciono culturas da Terra, eu realmente quero dizer culturas da Mãe Natureza. De:

Nós sabemos que a Mãe Natureza tem uma cultura e é a cultura originária

Oscar Kawagley, Acadêmico Yupiaq

Um pode afirmar que toda cultura é do planeta Terra, mas eu não estou me referindo à esfera de pedra morta flutuando no espaço.


Primeira parte da sequência de traduções do conteúdo Connecting peoples of the Earth, publicado na rede descentralizada Scuttlebutt