Natasha Zlobinsky ingressou recentemente na Aruba User Experience Insight como engenheira de software de dispositivos e é estudante de doutorado no departamento de Ciência da Computação da Universidade da Cidade do Cabo, no ICT4D. Anteriormente, trabalhou como engenheira de pesquisa no Instituto CSIR Meraka em Redes e Mídia e como engenheira elétrica em tecnologia de telecontrole na concessionária de energia Eskom. Possui bacharelado em engenharia elétrica e mestrado em engenharia elétrica (telecomunicações) pela Universidade de Witwatersrand. Está também envolvida no desenvolvimento de redes comunitárias na África e colabora com diferentes grupos de tecnologia em todo o mundo. Tivemos a oportunidade de conhecê-la durante a última Battlemesh12, em Paris, onde ela nos deu a seguinte entrevista.
Você poderia nos contar um pouco da sua trajetória e como se interessou por tecnologia?
Eu cresci em Joanesburgo e agora estou morando na Cidade do Cabo. Eu acho que minha jornada com a tecnologia começou porque eu estava muito interessada em ciências e matemática e esses são meus assuntos mais fortes e que naturalmente me levaram à engenharia e… foi por isso que eu acabei estudando engenharia. E depois entrei mais em telecomunicações porque estava trabalhando para uma empresa de eletricidade, a principal na África do Sul. Eu trabalhava na empresa paraestatal em telecontrole e foi assim que me envolvi mais nas comunicações em geral. Depois disso, mudei meu mestrado mais profundamente para essa área, a partir daí, tudo se voltou mais para comunicações e, eventualmente, comunicações sem fio. Comecei a ganhar mais conhecimento e a entrar em redes de malha. Quando comecei a trabalhar para diferentes institutos de pesquisa, eles estavam pesquisando diferentes tecnologias sem fio especificamente para áreas de baixa renda, usando TV White Spaces. É por isso que atualmente estou analisando a malha usando o TVWS com base nas frequências ao lado do Wi-Fi. É onde me encontro atualmente.
Quais são as principais realizações e desafios que você gostaria de destacar em sua colaboração com as redes comunitárias?
Uma equipe de pessoas da UCT colabora em um projeto e uma rede chamada iNethi, que é um conjunto de nós na península sul da Cidade do Cabo. Uma dessas comunidades conectadas pelo iNethi é um assentamento informal, com pessoas de baixa renda e moradias informais. E o outro está um pouco distante dessa comunidade, com renda um pouco mais alta, mas não muito. E eles estão conectados a uma área de renda mais alta, que é o terceiro cluster da malha e tudo isso está atualmente conectado à Internet pela universidade.
Atualmente, temos bastante conteúdo que está sendo criado pela comunidade e carregado no aplicativo de compartilhamento de arquivos, que faz parte da rede comunitária. E é muito bom ver as pessoas se engajando e não apenas consumindo conteúdo, mas encontrando uma plataforma para criar conteúdo, especificamente música. Diferentes pessoas e músicos carregam muitas de suas músicas e isso os ajuda a divulgá-las, a obter exposição. Então é muito bom ver isso. Também é bom ver isso sendo usado nas escolas, principalmente porque as crianças gostam muito de usar esse aplicativo e acervo, e isso ajuda muito. [E o projeto serve também] para manter uma internet mais estável do que normalmente teriam. E acho que parte das dificuldades é como expandimos. Além disso, como o mantemos estável quando temos um pequeno grupo de pessoas tecnicamente qualificadas. E o desafio é realmente como convencemos a comunidade a se apropriar para poder fazer mais, consertar e manter, expandir e tudo o que for necessário. E o que seria então o modelo de negócios para tornar essa rede sustentável. Esses são os grandes desafios daqui para frente.
Como você aprendeu sobre a Battlemesh e o que você acha do evento?
Soube da Battlemesh através de Nico Pace, de Libremesh, bem, do Altermundi e Rhizomatica… Acho que ele está envolvido em muitas coisas. E eu tenho trabalhado com ele porque parte do meu trabalho de doutorado é relevante para o que ele gostaria de fazer com o Libremesh, então ele me disse que este é um ótimo lugar para vir e conhecer pessoas que sabem muito sobre malha, que poderiam fornecer alguma orientação e contribuir para o trabalho, ou apenas para fazer contato com as pessoas. E também um espaço para, em um curto espaço de tempo, concentrar minha energia nesse assunto em particular e talvez fazer algum progresso no curto espaço de tempo, enquanto no resto do tempo estou trabalhando fazendo outras coisas. E fiquei muito empolgada em conhecer as pessoas aqui e aprender muito…
Como você vê a participação das mulheres na tecnologia?
Infelizmente, quando comecei a estudar, eu me sentia muito mais aceita e realmente não achava que houvesse qualquer tipo de diferença entre homens e mulheres quando entrei na universidade. Quando ingressei, não achei que houvesse tal divisão e nem falava sobre isso porque pensava que isso aumentaria a divisão. Nos últimos dez anos, tenho sido provada do contrário. Eu acho que definitivamente existem muitos tipos de desafios e diferenças. E sinto isso talvez também porque sou jovem, mas sinto que, para as mulheres jovens em tecnologia, supõe-se inicialmente que você não sabe de nada. Você realmente não sabe o que está fazendo, por que você está aqui? – até você provar a si mesma. Então você sempre tem que provar a si mesma, enquanto homens mais jovens nunca precisam provar a si mesmos, a suposição inicial é sempre “se você está fazendo isso, você é um cara inteligente, tudo bem”. Então esse ainda é definitivamente o caso. E isso acontece mesmo em lugares geralmente muito inclusivos e que tentam ter iniciativas para envolver mais mulheres. Quero dizer, sempre haverá a pessoa que entrará e tentará questioanr o que você está fazendo, impor suas ideias e assumir que você não sabe e precisa aprender o que fazer. E isso simplesmente não desapareceu. Mesmo em lugares que deveriam ser inclusivos e onde talvez a maioria das pessoas seja bastante aberta e inclusiva. Acho que até que os números sejam iguais, sempre se terá uma opinião e uma abordagem diferentes para as mulheres. É triste. Acho que fui ficando mais cansada ao longo do tempo, em vez de mais otimista. Mesmo vendo definitivamente que há mais mulheres nos eventos, que estamos melhorando os números, pelo menos, não acho que certas opiniões estejam mudando tanto quanto os números.
Qual é o futuro da Internet e das redes comunitárias?
Muito mais redes comunitárias começarão a se formar e a se conectar e criarão uma espécie de Internet independente, separada, que poderá ser apropriada em pouco tempo, inicialmente ela será independente e “gratuita”. Eu não acho que, a menos que haja alguma grande intervenção, na África, pelo menos, será diferente, porque o que acontece é a entrada do Google, a entrada do Facebook e são eles que fornecem conectividade aos desconectados. E assim será, na verdade, com a Internet,tal como foi com a maioria dos africanos que estava desconectada anteriormente. Bem, então… Não. E essa será então apenas uma nova maneira de explorar e levar da África para o Primeiro Mundo. A menos que realmente insistamos para que as comunidades sejam treinadas e entendam sobre redes comunitárias, para entender sobre redes, obter algum treinamento e se envolver. E, a menos que haja um grande esforço para isso, as forças externas assumirão o controle. E talvez não apenas as forças norte-americanas… quero dizer, a influência chinesa na África é enorme. Então tem isso também. Algo bastante drástico será necessário para impedir uma próxima onda de mera exploração a África.