Artigo
As comunidades indígenas rurais dos EUA enfrentam algumas das piores conectividades do país. Décadas de negligência os colocaram ainda mais atrás de outras comunidades rurais, muitas das quais estão migrando para redes comunitárias, em vez de depender de provedores nacionais de acesso à Internet. A comunidade tribal mais isolada nos Estados Unidos continentais optou por diminuir suas desvantagens estabelecendo uma rede comunitária.
Dentro do Canyon
A Reserva Indígena Havasupai, que abriga cerca de 600 pessoas, é cercada pelo Parque Nacional do Grand Canyon, no Arizona. Tendo povoado a região há séculos, o governo federal os restringiu à reserva, limitados a uma área de cerca de 518 acres no Havasu Canyon, em 1882. Fazendeiros, colonos e mineiros não-indígenas começaram a tomar posse da área na década de 1870 e a Ordem Executiva confiscou os territórios Havasupai para uso público. Após o estabelecimento do Parque Nacional do Grand Canyon e gerações de persistência, a etnia finalmente recuperou as mais de 188.000 áreas de planalto e canyon em 1975, através de uma lei do Congresso.
A comunidade, no vale do Grand Canyon, só pode ser alcançada de helicóptero, ou a partir de uma caminhada de 13 quilômetros que começa a 110 quilômetros da cidade mais próxima. O correio ainda é entregue por mula.
Em Busca do Espectro
Essa persistência está valendo à pena novamente, já que o Conselho Indígena de Havasupai tem concentrado sua atenção no acesso à banda larga. Eles estão colaborando com a MuralNet, sem fins lucrativos, para conectar a principal área residencial de Supai, onde vivem cerca de 450 membros da etnia. A missão da organização sem fins lucrativos é ajudar indígenas como os Havasupai a desenvolver infraestrutura para obter acesso à Internet de alta velocidade.
Na primavera de 2018, a etnia obteve uma licença temporária de acesso ao espectro concedida pelo Serviço de Banda Larga Educacional (EBS). A MuralNet, a ISP Radio Niles local e a Universidade do Norte do Arizona contribuíram para o esforço de lançar a rede comunitária. O Niles Radio forneceu o backhaul de 30 Megabits por segundo (Mbps) sem custo adicional, além de oferecer voluntários para ajudar na implantação. Com profissionais e voluntários da MuralNet da comunidade, a rede LTE entrou em funcionamento em um dia. Os custos de equipamento para o que a MuralNet descreve como a primeira fase da rede foram de US $ 15.000. Como resultado, algumas casas em Supai conseguiram obter serviços de banda larga, juntamente com o Head Start Center.
Com o súbito acesso à Internet, os estudantes em Supai sentiram um impacto imediato. Os professores do Head Start agora podem obter o treinamento necessário para manter os programas locais em conformidade com os requisitos nacionais e fazer aulas on-line para melhorar o programa. Afirma o Diretor Carlos Powel:
“A única maneira de conseguir isso [acompanhar os requisitos federais de certificação] é através da banda larga“, afirma Powell. “Ter que mandar meu professor por um semestre seria muito, muito caro para essa etnia e para o professor“.
A próxima fase da construção ocorreu com um investimento de US$ 15.000 no verão de 2018, visando aumentar o número de residências com acesso à Internet. A MuralNet também começou a treinar o gerenciamento de redes com membros indígenas.
O lançamento da rede foi a parte mais rápida do processo, diz Mariel Triggs, da MuralNet. Levou meses para a FCC conceder ao grupo indígena uma licença permanente para o uso do espectro, o que eles esperavam que fosse demorar poucas semanas. Com atrasos e custos legais, o projeto chegou ao montante de cerca de US$ 127.000.
Modelo
Para expandir o uso e o alcance da rede, o MuralNet e a etnia querem aumentar sua largura de banda para 1 gigabit. Além de levar o serviço a mais residências, eles querem fazer uso de aplicativos de telemedicina e ensino à distância.
Tradicionalmente, estudantes em idade escolar têm que deixar a reserva e morar em internatos para buscar seus diplomas devido à localização remota. Com acesso ao ensino à distância, eles poderiam ficar com suas famílias.
Em um relatório da rede da etnia, a jornalista Laurel Morales descreveu como Evan Balderrama visita pessoalmente um terapeuta de necessidades especiais duas vezes por mês. A família é uma das poucas que conta com acesso à Internet em casa, permitindo que Evan trabalhe com o terapeuta via Skype três vezes por semana. A conexão não é perfeita, diz a mãe de Evan, que descreve algum atraso no sinal, mas percebeu que o aumento na frequência da terapia ajudou Evan.
Os membros do Conselho Indígena, incluindo Ophelia Watahomigie-Corliss, querem expandir essas oportunidades.
“Temos diferentes gerações de equipamentos de telemedicina que estão apenas acumulando poeira porque [a banda larga] não pôde ser estabelecida”, diz Watahomigie-Corliss. “Velocidades de banda larga, Internet de alta velocidade, essas coisas são específicas“.
Em julho, ela discursou diante de um subcomitê de Agricultura dos EUA para descrever como a ausência de banda larga era prejudicial à etnia. Ela contou sobre o trabalho deles na montagem da rede de banda larga da comunidade. “Esses serviços que os americanos comuns vêm usando nos últimos 20 anos ainda não são uma realidade para toda a minha comunidade, mas este é o primeiro vislumbre de esperança que vimos em décadas“, disse ela.
Também em julho, a FCC aprovou uma ordem que dará às Nações Indígenas uma oportunidade curta de 60 dias para reivindicar à EBS o uso de espectro não-licenciado em suas terras antes das licitações. A janela é aberta em maio de 2020, a menos que o processo seja acelerado pelo Escritório de Gerenciamento e Orçamento (OMB). Se o processo for acelerado, terá início em fevereiro de 2020.
Quando a janela de prioridade terminar, o espectro disponível será leiloado para outros licitantes.
A MuralNet reuniu mais informações sobre o processo, incluindo perguntas frequentes sobre o regulamento da FCC, considerações para sua comunidade indígena, problemas com a abordagem da FCC e requisitos para reivindicar o espectro junto à EBS. Eles também desenvolveram uma série de mapas para ajudar a descobrir se existe espectro disponível nas regiões com potencial interesse nas novas licenças.